quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Serra e os pobres

Na experiência brasileira da democracia liberal, muitas vezes pudemos nos confundir entre a miríade de candidatos, eleição após eleição. Isso porque todos se tornavam muito parecidos, em razão de representarem, no mais das vezes, apenas disputas internas entre frações de elite regionais. Mas não é bem o caso dessa eleição presidencial de 2010. Raras vezes foi possível vermos com tanta clareza a diferença entre um apelo popular, de um lado, e um compromisso com as elites, de outro. Enquanto Dilma faz seus comícios populares, no face a face, Serra só faz encontros de cúpula, encontra-se com lideranças políticas, religiosas, empresariais, militares, etc - a contrapartida desses encontros de cúpula é a aposta no medo e no ódio das correntes de e-mails obscuros e das campanhas fanáticas que aparecem por aí.

[Nesse post, apenas transcrevo os dados de um parágrafo (apenas um) do ótimo texto Para você, que não votou na Dilma - do Blog Amálgama, incluindo aqui as fontes indicadas pelo autor. Confiram o texto original no link]

*** Pra começar, José Serra é cara que, pra não ir até a favela, leva a favela até ele. Ele montou uma favela cenográfica pra gravar sua propaganda eleitoral!

"[citação do blog O biscoito fino e a Massa:] Ex-prefeito da cidade e ex-governador do estado que têm o mais alto número absoluto de favelados no país, Serra conseguiu inventar o programa com a favela de plástico, numa constrangedora montagem de estúdio que lembrou as chanchadas da Atlântida. Atenção, estudantes e pesquisadores das áreas de ciências humanas e sociais! Quando aparecerem aqueles frankfurtianos-adornianos dizendo que tudo o que a indústria cultural e a TV produzem é manipulado e mentiroso, não se esqueça de dar mais uma volta na dialética deles e contraargumentar que até mesmo a mais deslavada mentira (a favela de plástico de Serra) não deixa de trazer em si profunda verdade (a verdade sobre o que é a candidatura Serra, ou seja, a sua impossibilidade de realmente visitar e estar numa favela brasileira). Poucas vezes na história dos programas político-eleitorais uma falsificação foi tão reveladora da verdade. Decupado pelo Brizola Neto, aí vai o clipe desse imortal momento de chanchada mágico-fantástica:






*** E quando Serra não consegue fugir da favela? Inquirido pela moradora de uma favela, o que o Serra diz a ela?

"Não posso conversar agora. A senhora não poderia me mandar um fax?"
[JOSÉ SERRA, presidenciável pelo PSDB, para uma senhora que queria falar-lhe sobre os problemas da favela onde mora]
[Revista Época, 24.06.2002]

*** Serra é o cara cujo vice, Índio da Costa, propôs punir quem dá esmolas!

Em seu primeiro mandato, Índio da Costa apresentou projeto de lei - posteriormente arquivado - para punir quem oferecesse esmolas a pedintes nas ruas do Rio de Janeiro. Na proposta, a mendicância era tida como um "vício". [Eleições UOL 2010, 04.08.2010]

*** Índio da Costa é o cara que chamou o Pronasci de “bolsa-bandido”



*** Dá pra esperar a continuidade dos programas de transferência de renda se tivermos na presidência um cara cuja esposa chamou o Bolsa Família de “bolsa vagabundagem”

Monica Serra: "As pessoas não querem mais trabalhar e estão ensinando isso aos filhos" [Valor Econômico, 23.08.2010]

*** Esse senhor não demonstra ter canais de comunicação com os pobres. Serra diz que vai manter os programas sociais. Só que eu não confio no que Serra diz. Aliás, não confio sequer no compromisso que ele assume por escrito em cartório.

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