sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Papa é do DEM?

Papa condena aborto e pede para bispos brasileiros orientarem politicamente fiéis (Folha de S. Paulo 28.10.2010)



Grande coisa. Eis o que tenho a dizer sobre isso:

Não é o Papa que está ali do lado do trabalhador do campo quando são perseguidos, ameaçados e executados nos conflitos no campo. Não é o Papa que denuncia as violações de DDHH por parte de fazendeiros e seus capangas. Não é o Papa que está ali do lado do preso quando é mal-tratado, esmagado numa cela junto com mais 30, torturado por funcionários ou executado por outros presos. Não é o Papa que está ali do lado acompanhando a situação dos menores abandonados. Não e o Papa que está perto de miséria e fome e injustiça.

São os padres militantes, como os das Pastorais, que estão ali, que ultrapassam a picuinha moral e estão preocupados com a questão social, porque a vêem bem à sua frente, e oferecem uma verdadeira resposta moral a ela. Padres que não recusam seu papel político nos conflitos, que são figuras em simbiose com as comunidades, cuja autoridade não está referendada por uma hierarquia rígida lá do outro lado do Atlântico. Ao contrário, é um tipo especial latino-americano, perseguido desde antes da Guerra Fria, que está do lado dos marginalizados, que foi combatido com a "renovação carismática", preterido por padres conservadores e xaropes, como aqueles que usam o momento do sermão pra criticar o big brother brasil e outras futilidades, ao invés de olhar de frente o demônio da desigualdade social.

Enquanto esses padres militantes sentem sua força moral quando em nome dos desfavorecidos, os conservadores só sentem sua força quando são muito mais fracos aqueles que foram nomeados como seus inimigos. São fervorosos, mostram toda a disposição para o combate, quando do outro lado do campo de batalha estão, por exemplo, mulheres que escolhem abortar e não podem conversar sobre o assunto livremente. É tamanha a falsidade de consciência, que, pra justificar sua mecânica de linchamento, falam sempre em nome de abstrações e projetam em suas nemesis uma falsa ameaça. Como quando se opõem a homossexuais acusando neles um risco à espécie humana. Ou quando opõem-se às pesquisas com células-tronco e falam, tal como na objeção ao aborto, em nome de um bebê abstrato que supostamente vive nelas. Esses conservadores sempre buscam "testar sua fé", mostrar seu valor de mensageiro da palavra, contra os mais fracos.

A hierarquia católica foi defendida a ferro e fogo desde os tempos do nunca; essa hierarquia, do ponto de vista da burocracia religiosa, é seu valor mais caro. Então é preciso que se diga: a intenção do vaticano não é exatamente empulhar a eleição de Dilma Rousseff, muito menos o Papa se simpatiza com José Serra. Bento XVI, assim como fizera João Paulo II, dá sequência a uma antiga luta entre, de um lado, a cúpula da hierarquia católica, e, do outro, os curas do terceiro mundo que, à revelia das diretrizes políticas do Vaticano, se solidarizam com os oprimidos nas situações políticas. Uma declaração dessas por parte do papa serve para forçar o amansamento político dessas figuras dissidentes e a cooptação dos jovens seminaristas para o lado "do bem", e não do lado dos "comunistas subversivos que querem instalar uma república sindicalista no Brasil" (já que Serra nos trouxe de volta aos anos 60...)

Não devemos nos assustar com o papa "do bem". Mais ainda: acho que não devemos superestimar o poder desses movimentos político-religiosos dessas eleições. Somos "o maior país católico do mundo", mas desde o século XIX, Nina Rodrigues já sabia que, em um país de diferentes raças coexistindo, essas estatísticas costumam enganar facilmente. Ou, como disse alguém que não lembro: "O Brasil pode ser 95% católico, mas é 100% candomblé". A atenção que deram a Bento XVI, com toda a pompa e cobertura televisiva ostensiva, quando de sua visita ao Brasil, não é de natureza diferente da atenção que recebeu Michael Jackson. O Papa é um significante como outros.

Alguns dos intelectuais tropicais demais ressaltam a nossa malemolência, o não levar a sério as coisas, a palavra que tem um valor diferente do que foi alhures, e por isso não assistimos aqui as guerras fratricidas que antes houveram na Europa, especialmente as guerras religiosas. Nunca assistimos, no Brasil e no resto da América Latina, uma verdadeira "reforma protestante". Mas a palavra ganha força na medida em que ela é operadora de Justiça. E se há de vir alguma palavra religiosa que tenha a força efetiva de mover as coisas da sociedade, ela certamente não virá do Vaticano ou dos televangelistas oportunistas, mas de nossos honrosos objetores de consciência da Teologia da Libertação.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Carta aberta a FHC, por Theotonio dos Santos

In: http://theotoniodossantos.blogspot.com/2010/10/carta-aberta-fernando-henrique-cardoso.html

segunda-feira, 25 de outubro de 2010
CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


Meu caro Fernando

Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete comtudo este debate teórico. Esta carta assiada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).

Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.

O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?

Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.

Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.

E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS, PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. VERGONHA FERNANDO. MUITA VERGONHA. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.

Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.

Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais.

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso faze-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.

Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.

Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço



Theotonio Dos Santos

thdossantos@terra.com.br, /theotoniodossantos.blogspot.com/

Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Serra, o catimbeiro maluco

Serra poderia ter simplesmente lucrado eleitoralmente com o incidente de um grupo de militantes do PT interrompendo a manifestação tucana. Podia simplesmente ficar quieto, e deixar o oligopólio midiático "capitalizar" a história. Aliás, diga-se: já "capitalizaram", ou seja, mentiram:

"[Citado de brasilianas.org:] O Globo On Line tascou logo a manchete: 'Serra é agredido durante campanha no Rio', com um texto no qual Serra se faz de vítima falando que os militantes petistas partiram para cima dele, acusando a militancia de nazista para baixo. / Entretanto, a CBN, que cobria o evento ao vivo, narrava de forma diferente os acontecimentos: os petistas exibiam cartazes com os dizeres “Quem é Paulo Preto?” e gritavam a mesma pergunta; os tucanos não gostaram e partiram pra cima dos petistas. A CBN descrevia as cenas enquanto ocorriam. / O Globo e a CBN precisam combinar quando quiserem mentir…(Luis Nassif on line)"


Ok. Mesmo que a primeira agressão tenha sido dos seguranças tucanos, de todo modo não era legítima a atitude de interromper a atividade da campanha serrista. Serra podia ficar quieto. E deixar o oligopólio de mídia fazer o trabalho sujo de manipular as imagens e o discurso, assim como tem feito.


Mas não. Serra não podia ficar pra trás na competição de quem mente mais. Sabemos que Serra mente. E mente compulsivamente. Ele tinha, tinha mesmo, que dar um toque pessoal no incidente. É mais forte que ele.

Prestem atenção no "projétil" que Índio da Costa descreveu como "aquele pacote enorme. Bateu na cabeça dele e fez até barulho. Um negócio pesado. Devia ter uns dois quilos"






Alguns tuítes em #SerraRojas #boladepapelfacts, pra fechar o dia em bom humor:




iavelar  RT @Meteste: Bilhões de anos atrás, uma bola de papel caiu na terra e extinguiu os dinossauros #boladepapelfacts #Serrarojas

gferreirasantos: Tomografia constatou o que muita gente já sabia: #SerraRojas não tem nada na cabeça

leonel_paredes  #serrarojas foi atingido por uma bolinha de papel, se fosse uma bolha de sabão acusaria o Pt de usar armas quimicas
 


luanlego "Fita crepe é o caralho! Meu nome é #bolinhadepapel ,porra!" #SerraRojas #boladepapelfacts

sábado, 16 de outubro de 2010

Manifesto em Defesa da Educação Pública

MANIFESTO DE PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

http://emdefesadaeducacao.wordpress.com/

(atualizado às 22h00, em 15/10/2010)
Manifesto em Defesa da Educação Pública

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.

Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.


Confira a lista de assinaturas em:
http://emdefesadaeducacao.wordpress.com/

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Serra e os pobres

Na experiência brasileira da democracia liberal, muitas vezes pudemos nos confundir entre a miríade de candidatos, eleição após eleição. Isso porque todos se tornavam muito parecidos, em razão de representarem, no mais das vezes, apenas disputas internas entre frações de elite regionais. Mas não é bem o caso dessa eleição presidencial de 2010. Raras vezes foi possível vermos com tanta clareza a diferença entre um apelo popular, de um lado, e um compromisso com as elites, de outro. Enquanto Dilma faz seus comícios populares, no face a face, Serra só faz encontros de cúpula, encontra-se com lideranças políticas, religiosas, empresariais, militares, etc - a contrapartida desses encontros de cúpula é a aposta no medo e no ódio das correntes de e-mails obscuros e das campanhas fanáticas que aparecem por aí.

[Nesse post, apenas transcrevo os dados de um parágrafo (apenas um) do ótimo texto Para você, que não votou na Dilma - do Blog Amálgama, incluindo aqui as fontes indicadas pelo autor. Confiram o texto original no link]

*** Pra começar, José Serra é cara que, pra não ir até a favela, leva a favela até ele. Ele montou uma favela cenográfica pra gravar sua propaganda eleitoral!

"[citação do blog O biscoito fino e a Massa:] Ex-prefeito da cidade e ex-governador do estado que têm o mais alto número absoluto de favelados no país, Serra conseguiu inventar o programa com a favela de plástico, numa constrangedora montagem de estúdio que lembrou as chanchadas da Atlântida. Atenção, estudantes e pesquisadores das áreas de ciências humanas e sociais! Quando aparecerem aqueles frankfurtianos-adornianos dizendo que tudo o que a indústria cultural e a TV produzem é manipulado e mentiroso, não se esqueça de dar mais uma volta na dialética deles e contraargumentar que até mesmo a mais deslavada mentira (a favela de plástico de Serra) não deixa de trazer em si profunda verdade (a verdade sobre o que é a candidatura Serra, ou seja, a sua impossibilidade de realmente visitar e estar numa favela brasileira). Poucas vezes na história dos programas político-eleitorais uma falsificação foi tão reveladora da verdade. Decupado pelo Brizola Neto, aí vai o clipe desse imortal momento de chanchada mágico-fantástica:






*** E quando Serra não consegue fugir da favela? Inquirido pela moradora de uma favela, o que o Serra diz a ela?

"Não posso conversar agora. A senhora não poderia me mandar um fax?"
[JOSÉ SERRA, presidenciável pelo PSDB, para uma senhora que queria falar-lhe sobre os problemas da favela onde mora]
[Revista Época, 24.06.2002]

*** Serra é o cara cujo vice, Índio da Costa, propôs punir quem dá esmolas!

Em seu primeiro mandato, Índio da Costa apresentou projeto de lei - posteriormente arquivado - para punir quem oferecesse esmolas a pedintes nas ruas do Rio de Janeiro. Na proposta, a mendicância era tida como um "vício". [Eleições UOL 2010, 04.08.2010]

*** Índio da Costa é o cara que chamou o Pronasci de “bolsa-bandido”



*** Dá pra esperar a continuidade dos programas de transferência de renda se tivermos na presidência um cara cuja esposa chamou o Bolsa Família de “bolsa vagabundagem”

Monica Serra: "As pessoas não querem mais trabalhar e estão ensinando isso aos filhos" [Valor Econômico, 23.08.2010]

*** Esse senhor não demonstra ter canais de comunicação com os pobres. Serra diz que vai manter os programas sociais. Só que eu não confio no que Serra diz. Aliás, não confio sequer no compromisso que ele assume por escrito em cartório.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Serra e FHC não podem voltar ao poder



Não é óbvio?

Outro dia, no blog do Gilberto Dimenstein, ele dizia que invocar a questão das privatizações para atacar a candidatura de Serra era tão abjeto quanto invocar a questão do aborto para atacar a candidatura de Dilma. Só que opor-se à política de privataria que foi o governo FHC e o retorno dessa política em um eventual governo Serra não é uma questão de fé, ao contrário do que acredita o jornalista.

Para entender bem de que modo as privatizações foram um verdadeiro desmonte do patrimônio público - como, por exemplo, usar o dinheiro do contribuinte para sanear as empresas antes de vendê-las (sendo que uma das justificativas para privatizá-las era a de serem empresas não-lucrativas...) e o governo assumir as dívidas trabalhistas decorrentes desse processo de "saneamento"; vender essas empresas pelo preço relativo não ao patrimônio acumulado dessas empresas, mas a preço de banana por meio de cálculos de projeções de lucro fabricados por "consultores" estrangeiros; emprestar dinheiro aos próprios compradores dessas empresas, através do BNDES - para que se entenda o que foram as privatizações no governo FHC, vale a pena conferir, para uma primeira mirada no assunto, o texto de Aloysio Biondi: O Brasil Privatizado.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Colocando na balança FHC vs Lula




olha andre que bacana, um desenho bem ilustrativo e didático das eras FHC e Lula, posta no blog. O endereço do blog do designer que fez a ilustração vai embaixo.
bjs,
grá.



    Veja o panfleto num tamanho maior!

    IlustreBOB

    quinta-feira, 7 de outubro de 2010

    A onda conservadora não é tucana

    O segundo turno das eleições presidenciais começou, surpreendentemente, com a emergência da questão da legalização ou não do aborto. Deflagrou-se uma bem-sucedida campanha, que vinha desde meses atrás mas que ganhou muita força nas últimas semanas, baseada em emails terroristas recheados de acusações falsas contra a candidata Dilma.

    Isso não é de todo ruim: mostra o novo papel das mídias eletrônicas no processo político. Enquanto muitos bocejavam no horário eleitoral e nos debates televisivos entre slogans eleitorais, uma enxurrada de emails conseguiu provocar um segundo turno, algo que o oligopólio midiático - Globo, Folha, Estado e as outras - não conseguira com toda a frenética cruzada de fabricação de escândalos. É sob essa mesma condição (de fortalecimento das midias eletrônicas) que a blogosfera permitiu-nos questionar as distorções do noticiário de uma agressiva imprensa antipetista.
     
    Tenho essa sensação de que a campanha de Serra não tomou plena consciência de que a onda conservadora não é, em essência, serrista ou tucana. São forças pré-políticas, subterrâneas, que estão gozando com o enrosco em que os candidatos se emaranham para evitar a hemorragia eleitoral.

    Em comum, essas forças reacionárias, algumas subterrâneas, outras não - em que se inclui o agronegócio, setores religiosos, os militares, o oligopólio midiático -, insurgem-se todas contra as diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos - 3. Uns não querem avançar na reforma agrária, outros temem que as mulheres saiam abortando por aí feito loucas, outros não querem a punição dos torturadores no regime militar, outros não querem dividir seus espaços no mercado da comunicação.

    Os PNDHs surgiram após a Conferência de Viena, em 1992. Lá, recomendou-se que os governos nacionais elaborassem tais programas para integrar a promoção e a proteção dos direitos humanos como programas de governo (Cf.: Sérgio Adorno, História e Desventura; clique aqui para ler o texto na íntegra). Foi com FHC, Paulo Sérgio Pinheiro e José Gregori que os PNDHs entraram na agenda política. O terceiro PNDH - que tem como figuras de proa Flávio Vannucchi, Tarso Genro -  é mais combativo, mais aguerrido, entende perfeitamente o quanto a luta pelos Direitos Humanos só pode ser uma luta política, e não uma obra de engenharia jurídica. Mas a paternidade do PNDH3, ao contrário do que nossos anticomunistas hidrófobos pensam, não é do PT - nem propriamente do PSDB, pois trata-se de uma política de Estado, não de governos. É de todo o conjunto de entidades de defesa dos Direitos Humanos e sua ação ao longo desses 20 anos. Os PNDHs são, em última instância, uma continuidade - política - dos princípios jurídicos de nossa Constituição, a assim chamada Constituição Cidadã.

    Quando assistimos Serra e seu vice, Índio da Costa, assumindo posturas políticas de extrema-direita, vociferando acusações contra o governo boliviano (atendendo às expectativas e aos esquemas de pensamentos dos políticos do agronegócio na região do Mato Grosso), incitando os militares da aeronáutica com a mesma terminologia dos militares de 64 ("O PT montou uma República Sindicalista!"), rezando junto com pastores evangélicos (Jesus!), apresentando-se como o arauto da "liberdade de imprensa" de uma imprensa que se faz de coitada - nesse momento temos o que Vladimir Safatle anunciou com felicidade como o esfacelamento ideológico do PSDB (clique aqui para ler na íntegra) - esfacelamento que, ressalto junto com o filósofo, começou desde o momento em que o PSDB aliou-se ao PFL (atual DEM) para vencer as eleições de 1994.

    O avanço dos movimentos pelos direitos humanos teve como contrapartida o alijamento desses grupos do processo político-eleitoral. Ao contrário do que acreditam os militantes mais alarmistas dos direitos humanos, a eleição de figuras como Jair Bolsanaro, Aguinaldo Timóteo, eram ainda exceções no quadro mais geral da ocupação das cadeiras do legislativo. Na falta de um discurso político coerente de oposição, Serra foi procurar, como um aprendiz de feiticeiro, as forças mais reacionárias que estavam à margem do processo político, e as conseqüências disso ainda estamos por ver.

    Nesse momento assistimos a campanha dilmista tentando escapar do rolo compressor conservador, reafirmando seus compromissos com Deus e com o antifeminismo. Nessa sinuca de bico, o PT tenta no curto prazo estancar a hemorragia eleitoral. O terrível dessa situação é ver a campanha oficial (assim como alguns influentes blogs...) afinar-se ao discurso conservador e mostrarem como Serra seria também um "monstro abortista", ao invés de ressaltar o que há de continuidade nos Programas Nacionais de Direitos Humanos desde os tempos do governo FHC (PNDH-1 e PNDH-2) até agora (PNDH-3). Os eleitores e militantes sinceros que restaram do PSDB não devem alegrar-se demais também, pois, no longo prazo, essas forças retrógradas, cada uma segundo suas particularidades, tendem a ultrapassar o continente psdbista, em direção a uma desestruturação de todo o sistema partidário.